Às vezes, me acomete um certo pânico... Tá, várias vezes me acometem vários pânicos sobre quase todas as áreas da minha existência, mas agora vou falar de um só, que se eu começo a pensar em todos, vou pra cama chorar e não escrevo mais. Tá. Então. Às vezes, me acomete UM certo pânico que é
*que que eu tô fazendo da minha vida profissional? (vou parar debaixo da ponte!)*. Ele ensaiou aparecer agora há pouco, quando topei com um blog de uma pessoa que leva seu trabalho a sério (e calha de ser um trabalho parecido com o meu). A pessoa se define pela profissão, escreve sobre a profissão, dialoga com outras pessoas que também etc, e está sempre lendo sobre e se atualizando em e discutindo a profissão. Sabe como? Profissão: condições atuais, rumos futuros.
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Já se vê pelos pontinhos que, eu, nada disso. Nem remotamente. Inclusive fujo.
Some-se a isso o fato de eu ser uma profissional-fantasma. Só vi meu empregador uma vez. Não conheço nenhum coleguinha. Meu nome não aparece. Já recebi elogios, mas por intermédio dos empregadores. "Fulano perguntou quem faz Xis e comentou que está muito excelente, parabéns." Vai que um empregador um dia resolva "Quem faz Xis sou eu. Achou muito excelente? Obrigado!". Ou que um Zé Mané comece a distribuir currículos e fazer contatos se apresentando "Oi, sou Zé Mané. Já viram Xis? Muito excelente, não? Sou eu que faço. Me contratem."
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É a situação: eu não me coloco, ninguém me conhece, se tudo mudar amanhã, fudeu.
Pânico, desespero, afobação.
Minha única resolução de fim de ano, pensada numa dessas crises, foi distribuir currículos, mesmo sem estar precisando de mais trabalho agora. Só pra me apresentar como a pessoa que faz Xis e tentar me garantir no caso do meu empregador vir a ter um piripaque e não sobrar mais ninguém nesta Terra que saiba chegar na autora das coisas muito excelentes. Foi minha única resolução de fim de ano. Já acabou janeiro. Pergunta.
Mas por que eu não fiz isso? Tão simples fazer isso... Por quê? Porque pensar em distribuir currículos desencadeia dois outros tipos de pânico: 1) ai, pessoas novas, padrões diferentes, possíveis críticas, tratar de dinheiro (prefiro morrer!); 2) ai, ficar conhecida, ser requisitada, construir carreira (quero morar no mato!).
E daí que fico sem saber contra que pânico agir.
Masssss...
(é aqui que entra o discurso mental calmante, como que pra evitar qualquer tipo de ação)
Masssss...
tem que ser assim? Será que a profissão tem que ser definidora? Pra começo de história, eu nunca falo
sou tradutora; falo
faço tradução. Não é minha profissão, é meu trabalho. Que eu só faço porque preciso de dinheiro. Já tive outros trabalhos e nunca
fui nenhum, só
estive. Será que todo mundo tem que crescer pra ser profissional profissional? Ou pode seguir
estando qualquer coisa pelo resto da vida, sem ter que ler, mergulhar, dialogar, se associar, discutir, contribuir para sobre a com em? Será que posso só continuar fazendo trabalhos muito excelentes assim na moita, e recolhendo meus dinheirinhos mês após mês, sem grandes dedicações nem ambições?
Eu sei que é temerário, mas posso?
Não sei se estou no caminho da paz ou no caminho da ponte.