uma historinha bem ilustrativa
Quando eu tinha uns 15 anos, tive um professor de inglês bacana que, atendendo aos insistentes pedidos da turma adolescente, levou um dia uma música pra aula. Mas não foi nada que se ouvisse no rádio na época. Não foi nada que a gente pudesse conhecer. Foi In the Colosseum, do Tom Waits.
this one's for the balcony, and this one's for the floor
as the senators decapitate the presidential whore
Vistrelinhas. Gamei. Tive vontade de ir nele e perguntar "quem é esse? qual é o nome do disco? onde é que eu acho? fala mais." Mas não fui, tive vergonha. Outras duas meninas não tiveram. Ele prometeu gravar fitas pra elas. Fiquei só com a referência e com a lembrança. Esse era um professor de peito. Esse era um professor cool.
Quando eu tinha 24, fui ser professora de inglês. Um dia, resolvi atender aos irritantes pedidos da minha turma adolescente. Invoquei o espírito do meu professor, nem pensei em procurar um pop da vez, juntei meus discos mais obscuros, separei uma música pra aula. Foi One of us cannot be wrong, do Leonard Cohen.
and just when i was sure that his teachings were pure
he drowned himself in the pool
his body is gone, but back here on the lawn
his spirit continues to drool
Voz, violão, assobio e 1967 na sala. Seis pares de olhos incrédulos em mim. Minhas bochechas pelando cada vez mais perto do inferno a cada verso. Intermináveis quatro minutos de vergonha, agonia e arrependimento. Apertei o stop, tirei a fita, falei "pronto, taí sua música" e não se tocou mais no assunto.
Faltou peito. Nunca fui cool.
The end.
Quando eu tinha uns 15 anos, tive um professor de inglês bacana que, atendendo aos insistentes pedidos da turma adolescente, levou um dia uma música pra aula. Mas não foi nada que se ouvisse no rádio na época. Não foi nada que a gente pudesse conhecer. Foi In the Colosseum, do Tom Waits.
as the senators decapitate the presidential whore
Vistrelinhas. Gamei. Tive vontade de ir nele e perguntar "quem é esse? qual é o nome do disco? onde é que eu acho? fala mais." Mas não fui, tive vergonha. Outras duas meninas não tiveram. Ele prometeu gravar fitas pra elas. Fiquei só com a referência e com a lembrança. Esse era um professor de peito. Esse era um professor cool.
Quando eu tinha 24, fui ser professora de inglês. Um dia, resolvi atender aos irritantes pedidos da minha turma adolescente. Invoquei o espírito do meu professor, nem pensei em procurar um pop da vez, juntei meus discos mais obscuros, separei uma música pra aula. Foi One of us cannot be wrong, do Leonard Cohen.
he drowned himself in the pool
his body is gone, but back here on the lawn
his spirit continues to drool
Voz, violão, assobio e 1967 na sala. Seis pares de olhos incrédulos em mim. Minhas bochechas pelando cada vez mais perto do inferno a cada verso. Intermináveis quatro minutos de vergonha, agonia e arrependimento. Apertei o stop, tirei a fita, falei "pronto, taí sua música" e não se tocou mais no assunto.
Faltou peito. Nunca fui cool.
The end.
5 Comments:
Bel, querida, quando dava aula de inglês passei muito por isso, principalmente em turmas de adolescentes. Daí que desencanei e comecei a levar só o que eu gostava de ouvir. Depois disso não ouvi mais reclamação: fazia uma cara de "isso é cultura" e ligava o f*. Cheguei até a montar dois workshops de como trabalhar música em sala de aula. :-)
By Anônimo, at 16 de janeiro de 2008 às 10:05
Talvez eu tivesse desencanado com o tempo também, Má. Mas minha carreira de professora durou só sete meses, ufa e viva. :)
By Anônimo, at 16 de janeiro de 2008 às 10:20
Mas talvez vc tenha mudado algumas vidas ali, Bel.
By Anônimo, at 16 de janeiro de 2008 às 17:54
Relaxa e pensa que ser cool na visão deles é tocar algum Simple Plan.
By ulisses, at 16 de janeiro de 2008 às 18:59
sou da opinião de permafrost. as pessoas quietinhas, aquelas que não se manifestam, nunca que iam chegar pra você e dizer "títcher, que super boa essa música, conta mais desse moço?" mas deve ter algum blog aí perdido contando de como eu tive uma professora legal que botou leonard cohen pra tocar e biriri.
(polianei forte)
(mas realmente acho isso)
By Rainman Raymond, at 17 de janeiro de 2008 às 15:52
Postar um comentário
<< Home