Muita gente se declara espiritualizada ou vive em busca do crescimento espiritual. Nunca vi ninguém se declarar filosoficado nem dizer que vive em busca do crescimento filosofal. Eu espero, viu?, que essa gente exista, e que o silêncio seja só uma questão de pudor.

olhem pra lá enquanto eu resmungo

Ontem eu acordei chumbada e passei o dia na cama. Hoje acordei normal. Por quê? Por que isso acontece?

Estou enrolando no computador há duas horas tendo que 1) tomar banho, 2) arrumar a casa pra faxineira, que vai chegar mais tarde, 3) começar a trabalhar. Estou enrolando no computador há duas horas.

Preciso tomar voluntex, forçavan e perspectivona porque, putz, como tudo parece enooorme e impossível.

Hoje eu acordei normal. Com um desânimo de cinco toneladas. Arrasta essa bola de ferro, tonta.

pequenas alegrias da vida

Estávamos eu e Bopla na parte de confeitaria do supermercado quando Bopla se intrigou com um minipudim de leite. Eu avisei que as chances de ser bom eram poucas, que pudim de leite tem que ser feito com amor, mas Bopla ficou muito a fins e insistiu que desconhecia, que nunca tinha visto nem provado pudim de leite na vida. Memória fraca, principalmente a gastronômica. Saiu então Bopla pelo supermercado comendo seu pudim gelatinoso, duro e com gosto de embalagem plástica quando topamos com um balcãozinho de free stuff. "Querem provar nosso queijo?" Bopla e eu adoramos free stuff de supermercado, não recusamos jamais. Atrás dos cubos de queijo, não tinha a mocinha bonitinha de praxe, tinha era um galalau meio troncho (de dentes tortos, se bem me lembro). Eu peguei um palitinho, Bopla pegou outro. Palitinho de queijo numa mão, pudim de leite na outra, ele olha pro sujeito e pergunta: "Ih, pode misturar?" Resposta imediata: "O máximo que vai acontecer é você ter uma diarréia."

Sim, crianças, é por essa frase que eu tenho agora um legítimo brie Po-len-ghi! na minha geladeira. Porque o cara mereceu, não mereceu?

Perfeito. Eu.

Não sei, não consigo me indignar, não. Fico triste, fico que bosta, coleciono mais uma prova de que o mundo vai funcionando sempre nas coxas, mas é isso. O que se pode fazer, não no caso específico da aviação, mas no quadro geral da negligência? Eu, sinceramente, acredito que nada. Você pode ser um indivíduo que procura fazer tudo certinho e é incorruptível, na vida pessoal e profissional, seja de que tamanho elas forem. Taí uma boa contribuição. Mas juntar-se a uma porção de outros indivíduos que procuram fazer tudo certinho para gritar em praça pública "por favor, resto do mundo, façam tudo certinho!", não vai sensibilizar aqueles que não estão a fim, não vai converter ninguém. Suas energias serão melhor aplicadas na tentativa de seguir fazendo tudo certinho no seu canto.

Não temos controle, não tem remédio. É impossível um mundo onde todos se respeitem e velem uns pelos outros. E vocês não sabem quanto me custa dizer isso. Eu, que tenho toda uma reforma ética e moral prontinha na cabeça para deixar o mundo melhor, indivíduo por indivíduo. É, é pra ser ridículo. Não, não tem uma luz no final desse post.

Um pequeno update da viagem pra quem deu dicas e ajudou. Acho que fechamos em Lisboa, com uma visita a Sintra, daí pra Londres e de Londres por terra pelo sul da Inglaterra e Wales até terminar em Dublin. No momento, estou procurando coisas pra ver em Wales. Bopla quer ir pra Tintern Abbey, por causa do poema do Wordsworth. Eu quero ir pra Hay-on-Wye, que promete ser uma das cidades mais legais do mundo.

Cada vez mais eu me permito deixar o trabalho pra depois porque estou cansadachateadatristeresignadafatalista, e cada vez menos me descabelo pelo dinheiro que perco a cada hora que passa. Parece que o carrasco está relaxando em serviço... Ou será que encontrou uma maneira mais insidiosa de fazer o trabalho dele? Hum.

Ó que bonitinho, cinco posts do nervocalm antigo no Copy&Paste. Eu achava o pessoal do C&P meio abusado, sabe? Nunca pediam, só comunicavam. Mas hoje estou grata a eles por hospedarem cinco posts do meu arquivo antigo, da época em que eu ainda punha os pés pra fora de casa pelo menos uma vez por semana e tinha assunto. Pouco, mas tinha. Adoro meu post da salsicha. Bons tempos.

eu me repito

To dream, perchance to sleep.

Vocês têm antipatias incontroláveis e misteriosas por alguém? Quando eu era pequena, eu não conseguia olhar pra cara do Charles Bronson. Tinha horror do sujeito. Nunca vi um filme dele. Continuo sentindo coisa parecida por outras figuras, como a Nicole Kidman, embora com bem menos intensidade. Mas não sei por que, quando estou ouvindo a last.fm e me aparece o tal de Sufjan Stevens, me sobe uma irritação que beira a raiva. Eu não suporto a cara dele, não suporto o nome dele, e os títulos das músicas, que em outras ocasiões me divertiriam, nele me parecem pura fraude. Eu nunca parei pra escutar o indivíduo, de tanto que ele me irrita. Estou perdendo alguma coisa? Com o Charles Bronson eu não perdi nada, né?

Quando me entusiasmo, eu me estranho. Não me reconheço muito, não. Olho pro que eu escrevo com uma cara de quem é essa? o que esse texto tá fazendo aqui? eca. Eu queria ter síndrome de múltiplas personalidades bloguísticas e me compartimentalizar, pra pôr mais coisas pra fora e passar menos susto. Um blog só pros entusiasmos, o mais abandonado de todos; um blog pra todos os que ridículo! não é possível! coméque pode uma coisa dessas? dá pra acreditar? aaaaargh!, que por enquanto são só orais e caem no ouvido de Bolops; um blog pra me permitir falar mal das coisas, pra ser uma pessoa horrível e sinto muito. Este aqui ficaria só lacônico e chatinho-deprimidinho, como já classificaram. Eu me encontro mais nesse cercado, fico mais à vontade. Todo o resto dá vergonha.

Claro que teria que ter um outro blog só pra posts como este. Categoria: too much information ou põe um véu nisso aí.

E agora é definitivo, vamos ter que mudar antes da viagem. Sobreviverei eu a tanto movimento? Terei eu forças para tantas decisões? Conseguirei eu sentar e trabalhar tempo suficiente para ganhar um dinheiro que preste nos próximos dois meses? A ver.

Imaginem que a pessoa passou a vida toda com medo de gastar dinheiro. E sendo da banda remediada da vida, ligou o piloto automático do poupar-e-garantir-o-futuro, mesmo nunca tendo tido a menor concepção de futuro nem vontade de esperar pra ver. Imaginem que um belo dia, já em processo de garantir seu futuro na forma de teto, a pessoa resolve mandar tudo às favas, escapar da pouquice à qual se condenou, e torrar metade de sua poupança-futuro numa viagem hoje. Em vez de angústia, dá um barato: ela sai dizendo foda-se pra tudo, deixa o trabalho para um eterno depois, sai comprando coisinhas que sempre se negou e começa a visualizar o saguão do aeroporto quase que diariamente. Mas depois do barato vem a queda (não é bem assim a frase, mas serve). Ter que escolher os lugares entre tantos lugares, planejar o roteiro entre tantos roteiros, escolher os transportes entre um punhado de opções, pesquisar passagens num punhado de companhias e sentar pra fazer as contas disso tudo. A pessoa sozinha não tem forças pra tanto, e o tempo urge.

Comovam-se.

Eu preciso de idéias, pitacos, dicas. O que vocês fariam no meu lugar?

Vai ser minha primeira viagem, se for. Londres é a única certeza - vai ser o ponto de partida ou o ponto final. Não sei se ficamos só pelas Ilhas Britânicas, saindo de Londres por terra e passando por lugares como Bath, Stratford-Upon-Avon, ?, ?, Pemberley (brincadeira), atravessando o País de Gales ? e terminando em Dublin (eu queria muito ir pra Dublin), ou se pipocamos em Londres, Paris ?, Barcelona ?, Valência (tem parente de Bopla), Lisboa (tem parente de Bopla). Enfim, são essas as já muitas opções. A Itália fica pra depois (arrã), a Escandinávia pra nunca (:~).

A idéia de ficar só nas Ilhas Britânicas foi minha, e eu voltei a gostar dela escrevendo este post, mas os dois jecas na minha cabeça ficam brigando sem parar. Jeca 1: "O quê?! Vai pra Europa pra ficar numa ilhinha só e voltar pra casa?" Jeca 2: "O quê?! Prefere pular que nem turista de capitar em capitar?"

Jeca 1, Jeca 2 and the Mighty Snail of Doom vão acabar melando minha viagem. Save me from myself. Decidam por mim!

Eu queria ter uma mente científica, e um traço cartunesco,
e bem menos preguiça.

As pessoas não entendem humor às vezes, não é verdade? Outro dia, vi no youtube uma participação do Tom Waits bem novinho, num programa de entrevistas obviamente humorístico, cantando The Piano Has Been Drinking. A platéia riu, eu ri, mas alguns comentaristas do youtube não acharam graça e até se indignaram, ou porque acharam o riso um desrespeito ao artista, ou porque acharam que era uma música seríssima e até trágica sobre alcoolismo, ou porque acharam o TW um bêbado filho da puta sem vergonha.

Enfim, as pessoas não entendem humor às vezes, principalmente quando o humor é meio dark. Eu falei que queria uma caneca com as palavras i wish i were dead e teve quem se preocupasse. Se eu tivesse essa caneca, eu riria todo santo dia no café. Porque é verdade, i wish i were dead, e tem coisa mais ridícula que isso? É todo o ridículo da sua existência estampado numa caneca barata olhando pra sua cara vivinha da silva na bancada da cozinha. Só rindo mesmo.

Enfim de novo, hoje eu acordei numa tristeza profunda. Sentei no computador pra trabalhar, mas, wtf, não estou a fim. Pus o disco do Simon & Garfunkel pra ficar ouvindo Bookends Theme sem parar e passar a manhã afundada no sofá em autocomiseração. Mas depois do trocentésimo repeteco, deixei o cd rolar e passou
I am a Rock. E aí eu ouvi outra vez. E aí eu comecei a rir.

i've built walls / a fortress deep and mighty /
that none may penetrate /
i have no need of friendship / friendship causes pain /
it's laughter and it's loving I disdain /
i am a rock, i am an island

Agora vê se essa pessoa da música não é absolutamente ridícula. Vê se uma história dessas não é pra rir. Vê se o Paul Simon escreveria versos como 'and a rock feels no pain / and an island never cries' se ele não quisesse provocar risadas. Pois essa pessoa sou eu, essa história é a minha vida, e olhando pra esse espelho, só me restou dar risada.

E estou bem melhor agora. Obrigada, Paul Simon.

Sudden realization: passei de caracol a tatu.

Só pra tirar o post datado aí abaixo do topo da lista, vamos escrever alguma coisa.

Não tem assunto.

Vamos abrir o dicionário analógico numa página aleatória e copiar o resultado.

Abri em morte, i kid you not. Primeiras palavras que eu vi: agonizante, comatoso. Mas ninguém vai acreditar que isso foi aleatório. Nem eu acreditaria. E chega de monotema.

Abre outra.

868 (Dificuldade de contentar-se) Exigência, niquice, rabuge, rabugice, minúcia, nica, impertinência pueril, pantagruelismo, vampirismo, hipercriticismo, fome canina 957; friandise, epicurismo, incontentabilidade, voracidade, omnia suspendens naso, epicuro, hipercrítico, homem de mau despacho, tubarão.

...

Adoro quando isso acontece.

Vou beijar meu dicionário analógico. Bom dia pra vocês.