Parece que está havendo um processo de troca de vizinhas aqui. Nos últimos tempos, as coisas andavam bem mais silenciosas, é verdade. Semana passada, Bopla chegou contando as fofocas da portaria: uma já tinha ido embora, outra estava pra sair, ia ficar a terceira mais o irmão, que viria não sei de onde. Num primeiro momento, fiquei feliz. Tipo cinco minutos. Foi o tempo que levou pra eu me tocar que já tinha ouvido, em altos brados, o nome das duas fulanas que saíram, mas nunca o da terceira. Ou seja, muito provavelmente era a terceira que berrava os nomes, muito provavelmente é a gritalhona corticeira que fica. Se ainda vier uma criatura de mesma genética e berço, pronto, minhas noites acabaram.
Estou tomando passaneuro preventivo há uma semana por conta disso.
Agora chega Bopla outra vez, o arauto do apocalipse, dizendo que ajudou uma peruinha a levar malas cor-de-rosa gigantescas pra dentro do apartamento vizinho. Mais uma perua. Chegando numa sexta-feira. Festa de boas-vindas?
Estou em plena crise de estresse pré-traumático.
Ontem de madrugada, antes de dormir, fiquei um tempão na janela olhando a rua, os prédios, os prédios e mais prédios e mais prédios, cheios de gente gente gente gente gente, que produz barulho barulho barulho barulho barulho barulho. Fiquei ali sem conseguir me mexer, de tanto pavor do futuro, dada minha incapacidade crescente de lidar com o barulho que essa gente produz.
Eu devia começar a procurar outro apartamento, mas vai ser outro apartamento num prédio rodeado de prédios apinhados de gente que produz barulhos. Barulhos novos, talvez, que eu nem previa.
Não sei o que estou fazendo aqui, não sei por que não vou embora, não sei pra onde ir, não sei o que fazer.