a world of fog
Uma moça me desejou, numa loja, um ano novo cheio de paz, amor, alegria e muita fé, prin-ci-pal-men-te muita fé. E como é que você responde a uma coisa dessas senão com arrãs? Já se vão trinteitantos natais de arrãs.
Sei lá, acho graça quando as pessoas mencionam essas coisas como se fossem de comum acordo universal. Tem gente que escreve carta pro jornal pra comentar notícia e invoca carma e criador no meio, na maior naturalidade, como se fosse uma concatenação perfeitamente lógica. O judiciário agiu certo por causa do carma. A medicina está descobrindo que Deus conhece nosso corpo melhor que ninguém. O aumento da criminalidade é conseqüência direta do nosso descaso pelos anões azuis vingativos da Patagônia. E acima de tudo, no ano que começa, agarrem-se ao intangível.
Sei lá, gente, só sei lá.
...
adendo: tipos
Uma moça me desejou, numa loja, um ano novo cheio de paz, amor, alegria e muita fé, prin-ci-pal-men-te muita fé. E como é que você responde a uma coisa dessas senão com arrãs? Já se vão trinteitantos natais de arrãs.
Sei lá, acho graça quando as pessoas mencionam essas coisas como se fossem de comum acordo universal. Tem gente que escreve carta pro jornal pra comentar notícia e invoca carma e criador no meio, na maior naturalidade, como se fosse uma concatenação perfeitamente lógica. O judiciário agiu certo por causa do carma. A medicina está descobrindo que Deus conhece nosso corpo melhor que ninguém. O aumento da criminalidade é conseqüência direta do nosso descaso pelos anões azuis vingativos da Patagônia. E acima de tudo, no ano que começa, agarrem-se ao intangível.
Sei lá, gente, só sei lá.
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20 Comments:
Fé não precisa ser religiosa.
By Carrie, a Estranha, at 28 de dezembro de 2009 às 16:12
O que ela estava me desejando, então?
By nervocalm, at 28 de dezembro de 2009 às 16:39
Téééédio dessa época do ano, Nervo. Também quero morrer 10 vezes quando aquele ser patético que é escroto o ano inteiro vem me dar abraços e desejar 'tudo de bom'. Blé!
By Carolina, at 29 de dezembro de 2009 às 07:09
Né? Este ano, na véspera de natal, Bopla resolveu sair às nove e pouco da noite pra ver se o supermercado estava aberto. Caminhar pela rua vazia e molhada de chuva, sabendo que eu não precisava cumprir nenhum ritual aquela noite, me deixou tão leve e contente, que fui saltitando e cantando até a porta do supermercado... fechada, claro. :)
By nervocalm, at 29 de dezembro de 2009 às 08:33
Eu li essa carta do carma e lembrei de vc na hora.
By Cam Seslaf, at 29 de dezembro de 2009 às 21:34
Ué, a fé pode ser laica. Pode ser em vc, nos outros, na vida, no trabalho, no fato de q as coisas podem dar certo, não porque algum ser superior assim quis, mas porque tem horas em q as coisas dão certo, pelo simples fato de q cansam de dar errado. Sei lá. Acho importante ter esse tipo de fé. Não um otimismo besta e desenfreado, mas uma sementinha dentro de si q te faz acordar todos os dias.
By Carrie, a Estranha, at 30 de dezembro de 2009 às 17:22
Não sei, Carrie, a palavra fé sempre evoca religiosidade. Se não for pra invocá-la (a religio), melhor não usá-la (a palavra), senão vira má-fé (trocadilho, hein, hein). Vira essas pessoas que começam a falar de Deus numa conversa - assim com maiúscula, como se fosse um nome próprio - e quando você aperta, elas dizem que estão falando é de natureza, amor, energia, força... Fala natureza, amor, energia ou força, então, ora bolas! Pra que confundir todo mundo optando por Deus?
O que você descreveu está mais pra otimismo mesmo, ou esperança. E se você mesma tem o impulso de dar uma freada em otimismo, senão fica besta, menos motivo ainda pra defender fé, que tem um grau maior de intensidade e bem menos necessidade de ser fundamentada em possibilidades reais.
By nervocalm, at 30 de dezembro de 2009 às 18:13
Hoje, finalmente, Mary & Max. Excelente. Obrigado. (Queria dizer mais coisas sobre o filme, mas a minha opinião é sempre muito acaralhada, então "muito obrigado" está ótimo.)
A propósito (do post), assisti um documentário (The Enemies of Reason) feito (bem feito) pelo Richard Dawkis. Acho que você já assistiu. São as coisas de sempre, mas bem articuladas.
By uma cadeira, at 30 de dezembro de 2009 às 22:28
Olá
O amor é uníssino e personalíssimo.
Não se confunde com religião, fé,esperança, absolutamente nada.
Eu tenho da fé, porque muitas vezes ela nos encaminha para o fanatismo, ou cria uma percepção muito distante do verdadeiro sentimento amoroso.
Fé é um sentimento muito intenso e ttoalmente abstrato, não há nada que se possa comparar.
Eu prefiro amar a ter fé.
Beijos
Alê
P.S.: Eu não sabia se você comemorava o Natal, por isso, não lhe escrevi, então Feliz Ano Novo para você e sua família e beijos para Catarina.
Ao ler esse post lembrei-me da música Riverman do Nick Drake.
Acho que vivo procurando esse homem da música, para que eu possa compreender um pouco melhor a vida.
By Alê, at 31 de dezembro de 2009 às 09:17
Sério que você não entende e te incomoda?
Sou judeu de uma família que não liga para a religião há umas duas gerações. Sempre me desejam Feliz Natal. Eu retribuo com um sorriso e desejo também, com toda a sinceridade. Podia muito bem falar que não celebro Natal, minha família muito menos, ou não falar nada e fazer cara de "arrã".
É evidente que por mais que se considere tudo isso idiota, a pessoa se deu ao trabalho de desejar algo de bom a um estranho. Reagir a isso com a)incompreensão que paradoxalmente nasce de um racionalismo descabido e b) desprezo me parece quase não-humano, sinceramente.
By Anônimo, at 1 de janeiro de 2010 às 01:48
"Não sei, Carrie, a palavra fé sempre evoca religiosidade."
Para você. Dizer que a "palavra fé sempre evoca religiosidade" é obviamente falso, tanto linguística quanto factualmente.
By Anônimo, at 1 de janeiro de 2010 às 01:50
Anônimo, eu também não me incomodo que me desejem feliz natal e também retribuo com um "pra você também" sorridente. Ouço um "feliz natal" como ouço um "tudo de bom", nenhuma diferença.
pessoa se deu ao trabalho de desejar algo de bom a um estranho
O que me surpreendeu na história foi justamente ela me desejar fé como se fosse uma coisa boa. Aliás, mais que boa, a melhor de todas. Já ficou claro que, pra mim, não é, né?
Quanto a você não achar que fé sempre evoca religiosidade... bom, vou dizer o quê? Eu vivo de buscar e usar as palavras mais precisas pra cada situação, todos os dias, no meu trabalho. Esqueço que, pra maioria das pessoas, isso não é tão importante. Outro dia, por exemplo, um garçom me disse que o tempo ideal de infusão do chá que ele me serviu ia "do caráter de cada um". Eu achei muito engraçado e registrei; pra maioria das pessoas, passaria batido.
By nervocalm, at 1 de janeiro de 2010 às 11:46
Só acho que, ao me desejar "muita fé", a probabilidade da moça estar pensando em "confie em si mesma", "tenha esperança no futuro", "seja otimista" ou "acredite que tudo vai dar certo" é muitíssimo menor do que a probabilidade dela estar pensando no deus dela.
By nervocalm, at 1 de janeiro de 2010 às 12:00
Alê, um otimíssimo ano novo pra você. :)
Cadeira, esse documentário eu não vi ainda. Obrigada pela dica.
By nervocalm, at 1 de janeiro de 2010 às 12:01
Vc não viu esse documentário, jura? Nem te recomendei porque achei que já era notícia velha aí. É bem legal, tem no Tubes e tudo.
Quanto ao significado de fé, assino e sublinho. Fé = religiosidade na maior parte do tempo, até pra loteria acumulada. ;D
By Anônimo, at 1 de janeiro de 2010 às 18:36
Ops, era eu essa aí.
By Mízi, at 1 de janeiro de 2010 às 18:36
E essa semana passou Religulous na HBO, traduzido como Irreverente. Passei batido porque achei que era comédia boba, deu raiva, mas depois gostei muitíssimo da escolha. Né?
By Mízi, at 1 de janeiro de 2010 às 18:38
Irreverente... Ótima sacada! Eu vi Religulous no tubes, mas não gostei muito. Não flui muito bem, acho que por excesso de material.
Dos do Dawkins, já vi trechos do Root of all Evil no tubes, mas nunca ele inteiro, e posso ter visto trechos deste que o Cadeira recomendou também.
Estou querendo ver esse - http://www.youtube.com/watch?v=tNcPX9KbwSY - Waiting for Armageddon.
By nervocalm, at 1 de janeiro de 2010 às 19:33
Só acho q acreditando ou não, a pessoa te desejou o q melhor existe pra ela. Se o q melhor existe pra ela não o é para vc, ok, mas vale a analogia. Eu tb não entendo muito o motivo de tanta irritação sua - como o amigo judeu aí de cima disse. É q nem qdo a pessoa diz "vai com Deus". Se vc não acredita em Deus, simplesmente pense q a pessoa quer q vc vá bem pra casa(ou pra onde esteja indo).
Agora, isso é completamente diferente dos outros exemplos q vc deu. "Tem gente que escreve carta pro jornal pra comentar notícia e invoca carma e criador no meio, na maior naturalidade, como se fosse uma concatenação perfeitamente lógica". Concordo. Mas tb compreendo q, para aqueles q realmente acreditam isso é uma realidade tão palpável qto para os q não creem não o é.
Me dei ao trabalho de olhar a palavra "fé" no Aurélio. Tem 4 significados: 3 religiosos e um laico. Ainda q o menor deles, tb existe o significado não religioso.
Qdo disse "otimismo besta e desenfreado" me referia àquele otimismo em q a pessoa se recusa a acreditar na realidade (e o q é a realidade? Ok, mas não entremos nesse terreno) e cria um mundo próprio. O q é diferente de, mesmo na porcaria do mundo em q se vive, ter um motivo para pelo menos levantar da cama toda manhã. É bem diferente, a meu ver. "levantar da cama" é uma coisa. "Mudar o mundo" é outra. E eram esses dois tipos de otimismo a q eu me referia.
By Carrie, a Estranha, at 3 de janeiro de 2010 às 17:27
Minha reação não foi de irritação, foi de surpresa pelo principalmente, tipo, "putz, prin-ci-pal-men-te fé! o que ela acha ótimo, eu acho péssimo." E depois vim aqui e expressei um certo enfado porque, afinal de contas, o troço é recorrente.
Nunca aconteceu de te falarem uma coisa com a qual você discorda veementemente, mas, por questão de educação, não pode retrucar? Pois multiplique essa situação por centenas de vezes. Pra mim, são centenas de "deus isso, deus aquilo" que engulo educadamente. Às vezes, cansa, Carrie.
Eu entendo perfeitamente que ela me desejou o que há de melhor na opinião dela, mas já pensou se eu saísse por aí desejando aos outros um ano novo livre de religiões e superstições? Duvido muito que me veriam com essa benevolência toda. E é disso que eu estou falando, na minha expressão de enfado e nos exemplos do segundo parágrafo: as pessoas pensam que crença é ponto pacífico, que todo mundo tem, mas isso não é verdade. E, repito, ouvir isso a torto e a direito sem retrucar, às vezes, cansa. É só.
By nervocalm, at 3 de janeiro de 2010 às 21:50
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