nervocalm gotas

13 de outubro de 2008

Mas sobre aquela outra polêmica, a da revista Tripa, que eu ando lendo por aí afora. O texto é constrangedor, ruim demais, tem aquele "sinto ódio do Brasil" ridículo e a fantasia toda é bem banal, de mau gosto. Mas gritar estupro, gente?

Quem grita estupro naquele caso descrito, ficcional ou não, está insinuando que uma mulher adulta ("20 ou 30 anos") fica sem defesa diante de um moleque de 14 cuja única arma é a torração de saco ("pedimos, insistimos"). É isso mesmo? Vocês que têm 20 ou 30 anos conseguem se imaginar dizendo outra coisa que vá te catar, moleque, no mínimo, a um garoto de 14 que vem com dá pra mim, vai! ah, dá pra mim! dá, vai! por favor!? Mesmo com o imaginado agravante do medo de perder emprego ("ódio do Brasil!"), jura que ela não podia dizer não? Se o filho de 14 anos do/a sua chefe pedisse pra você dar pra ele, você não veria escolha? Você, a mulher adulta, seria uma vítima totalmente desamparada, e o garoto recém-entrado na puberdade, em fase de experimentação sexual, seria um criminoso plenamente consciente de estar cometendo um crime?

Eu prefiro não ser vista como mental e fisicamente incapaz diante dos homens e da vida, muito obrigada.

Essa semana li na Salon o caso de uma menina adolescente nos EUA que tirou fotos de si mesma pelada e enviou pra colegas de escola. Ela foi presa e indiciada por distribuir fotos de uma menor nua, sendo que a menor era ela mesma. Se condenada, pode ir prum reformatório e passar 20 anos no registro de sexual offenders (aquele que é divulgado pra todos os seus vizinhos toda vez que você se muda). Foi solto outro dia ano passado, depois de dois anos de prisão, um rapaz condenado aos 17 anos por receber uma chupada de uma menina de 15 numa festa. E são casos e mais casos assim, chegando até o cúmulo do absurdo, como um menino de 4 anos ser suspenso do maternal porque a professorinha interpretou seu abraço como "contato sexual impróprio". Ele pressionou o rosto nos peitos dela.

Gente.

Não vamos importar essa doideira americana, por favor. Mau gosto literário, pode ser. Crime, processo, boicote, acho que não.

10 Comments:

  • Hahaha, gente, fiquei sabendo desse caso da revista Tripa ontem, é de uma bobajada que dá até tristeza. Se é isso que SACODE a galera, estamos mal.

    By Blogger Alechandra com X, at 13 de outubro de 2008 às 22:27  

  • Hoje foi meu dia das polêmica, mêo! :)

    By Anonymous Anônimo, at 13 de outubro de 2008 às 22:28  

  • Nossa, Bel! Que postão grandão! Vim até comentar, hahaha!

    By Blogger Rozzana, at 14 de outubro de 2008 às 06:00  

  • ai, bel, a mulher empregada TEM que dar para o filho do patrão. TEMQUE. Se isso não é coação, não sei mais.

    By Anonymous Anônimo, at 14 de outubro de 2008 às 12:51  

  • Rô, cê viu? :)

    Ke, não tem que. Me desculpa, mas não. Você acha que pra você, eu, todas nosotras a idéia é absurda, mas a empregada é boi no matadouro? Aí é menosprezo duplo. É interessante também imaginar como teria sido o desenrolar dos fatos se a moça não tivesse dado.

    - Paiê! Despede a Luísa, que ela não quis dar pra mim!

    Sério?

    By Anonymous Anônimo, at 14 de outubro de 2008 às 14:03  

  • Eu também acho que é mais complicado que isso, irmã. Haveria mil maneiras de um garoto undermine a presença da empregada em casa ou transformar a vida dela num inferno. Seria preciso saber mais sobre a moça: se era recém-chegada do interiorzão ou mais urbana, se muito medrosa, muito necessitada de trabalho, muito pouco assertiva... Tudo isso pesaria no poder de coação sobre ela. Eu consigo imaginar facilmente uma situação de "ter que", especialmente há 30 anos.

    By Anonymous Anônimo, at 14 de outubro de 2008 às 14:59  

  • Hermana, eu só posso comentar o descrito ali, né? Tudo mais é imaginação, e imaginação vai longe. O medo dela de perder o emprego também é imaginado por ele no texto. E por quê? Pra deixar a fantasia mais sórdida e excitante. Só me incomoda que a mulher seja sempre vista como a vítima outsmarted confusa indefesa enfraquecida martirizada humilhada e traumatizada pelo resto da vida. Se tanta gente está disposta a ver o menino de 14 anos como plenamente ciente do que estava fazendo, por que não ela? Por que não achar que ela pesou as alternativas, decidiu assim e seguiu com a vida? Talvez porque imaginá-la humilhada e destroçada também torna a fantasia mais sórdida e excitante.

    Espero não ser muito absurdamente incompreendida aqui. Só não quero aceitar a posição de fraqueza e impotência que esse tipo de mentalidade me imputa por tabela por ser mulher.

    By Anonymous Anônimo, at 14 de outubro de 2008 às 15:37  

  • uia, como diz beauvoriana. num dá para relativizar o conceito de estupro, bel. nós nunca estivemos no papel de empregada que TEMQUE... vivemos uma realidade muito, mas muito diferente

    By Anonymous Anônimo, at 14 de outubro de 2008 às 15:51  

  • Quem está relativizando o conceito de estupro nesse caso não sou eu. Lembrando sempre que estou falando desse caso.

    By Anonymous Anônimo, at 14 de outubro de 2008 às 16:06  

  • Ah, entendi.

    E não acho que o conceito de estupro deva ser relativizado. Violência não é só faca no pescoço ou revólver na cabeça. Mas a descrição do texto não é de estupro. O largo espectro de abuso sexual pode ser, mas estupro, *no texto*, não está descrito.
    Meu nojo, desprezo e repulsa pelo autor são os mesmos, though.

    By Anonymous Anônimo, at 15 de outubro de 2008 às 15:39  

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