nervocalm gotas

1 de outubro de 2008

Então, pra me distrair da tristeza pesada que se instalou depois de tanta ansiedade, vou falar que um dos momentos mais cheios de promessa da minha vida aconteceu nesse mesmo dia, um ano atrás, quando pousei em Heathrow de tardezinha. Tudo já me parecia tão novo, tão lindo e inglês. Eu e Bopla andando pela enormidade que é Heathrow atrás de sei lá o quê antes de pegar o metrô. O metrô que é dentro do aeroporto, ali, assim. As instruções específicas de pegar o metrô até a estação xis e depois o trem até a estação zê, Bopla se esqueceu de anotar e por isso descemos na Hackney errada, umas dez da noite já. Da estação de trem pra rua deserta, mochilas nas costas, tijolinhos tijolinhos tijolinhos, lanchonete de kebab pra pedir directions. Tijolinhos e kebabs, o que mais tem em Londres. Não, não, não, injustiça. Um táxi que não era táxi finalmente nos levou pra casa da minha cunhada. Ela brasileira, eu brasileira, um marido chileno, outro uruguaio, um inquilino espanhol, um italiano ausente. Tudo que é nacionalidade pelas ruas, no mínimo cinco línguas diferentes em qualquer ônibus que se pegue. No dia seguinte, pegaríamos o primeiro de muitos pra passear. Eu sempre pensava: "Viajar pra cidade grande? Pra que que eu vou viajar pra cidade grande? Eu já moro em São Paulo, catso." Londres não é São Paulo. As coisas, Bel, podem ser diferentes.

21 Comments:

  • Nesta mesma época, mas há três anos. Sim, as coisas podem ser BEM diferentes. Só digo uma coisa: eu não queria voltar.

    By Anonymous Anônimo, at 1 de outubro de 2008 às 23:19  

  • Bel, só uma palavrinha: drogas, Bel. Drogas. Legais, claro. Com receita. Vc vai dizer "ah, eu tentei por um tempo, foi legal, mas não tanto e eu não queria passar o resto da vida nelas". Drogas me deram coragem para vir pra cá. Não acho q eu seja outra pessoa com elas. Mas, se for, qual o problema? Sou definitvamente uma pessoa melhor. E resto da vida? Bom, não sei. As coisas mudam. Mas acredito q em alguns momentos da vida precisemos de drogas.

    Drogas, Bel. melhora. Eu juro q melhora. Dá coragem. Coragem em pilulas. Believe me, please. Não resolve a vida, mas dá força para resolver.

    Um beijo

    By Blogger Carrie, a Estranha, at 2 de outubro de 2008 às 00:59  

  • e a gente aqui com saudades de voce! Venha nos ver de novo.
    Madrinha.

    By Anonymous Anônimo, at 2 de outubro de 2008 às 08:20  

  • Rô, não queria volta de lá pra cá, ou não queria voltar pra lá?

    Carrie, eu sei como é, eu já tomei. Talvez me fizesse bem mesmo, mas tem um problema: estou tentando decidir se engravido em breve (tá difícil). Por isso, não posso começar a tomar antimalucogênicos, como diz meu pai. Mas eu entendo perfeitamente o que você diz e agradeço. Beijo. (fiquei te devendo uma resposta ao seu comentariozão...)

    Madrinha, e eu então? Quero muito voltar e fazer os passeios que a gente não fez.

    By Anonymous Anônimo, at 2 de outubro de 2008 às 09:46  

  • "Tentando decidir se engravido em breve"...hahahaha... por que vc pode se decidir por engravidar daqui a muito? Ou não engravidar at all? Acho q vc tá no exato caso de não sabe se casa, se abre uma coca-cola ou compra uma bicicleta. Boa sorte!

    By Blogger Carrie, a Estranha, at 2 de outubro de 2008 às 17:25  

  • É bem esse o caso. :) Sei lá, Carrie, vou fazer 33 este mês. Minha vontade até agora não veio, mas o moço quer, ou queria, sei lá. SEI LÁ! (arranca os cabelos)

    By Anonymous Anônimo, at 2 de outubro de 2008 às 18:27  

  • Bel, tenha logo. Se você não tem convicção de que NÃO quer, é porque quer ao menos um pouco. Se você quer ao menos um pouco, deve ter. Esse é o tipo da coisa que faz você se arrepender mais de não ter feito do que de ter feito antes da hora. E tem um detalhe que você deve levar em conta – o bom e velho impulso reprodutor que compartilhamos com todos os coleguinhas da natureza. A cada ano, você vai sentir o conflito ficar mais forte e a dúvida mais desesperadora. É a fêmea neandertal reprodutora que habita as profundezas do seu ser quem vai colocar a mulher-racional-que-acha-que-não-está-na-hora quase louca. Esse conflito é a pior parte, Bel. Na verdade, a pior parte é não conseguir ter quando você resolve que quer. Acho que sou parecida com você em muitas coisas, até nesse dilema. Talvez você também se pareça comigo no que diz respeito a um estranho e poderoso impulso de auto-sabotagem (perdeu o hífen?) . Por isso, do meio do nó cego que se tornou a minha vida, me sinto no direito de me meter – não é tão complicado assim, tenha logo.
    Cláudia

    By Anonymous Anônimo, at 2 de outubro de 2008 às 19:47  

  • Eu não sei se quero um pouco, na verdade. O que eu sinto é essa pressão da possibilidade de vir a me arrepender mais tarde, e um bocado de culpa em relação ao moço, que é bem mais velho que eu e já está esperando há oito anos. Mas sempre que penso "tá bom, terei!", me bate um pânico tal que volto imediatamente atrás. Do se arrepender de ter filhos, muito pouca gente fala.

    Obrigada, Cláudia. Foi bom ler tudo que você escreveu.

    By Anonymous Anônimo, at 2 de outubro de 2008 às 22:11  

  • Na condição de quem teve filho em situação mais ou menos adversa, deponho a favor da prática. :O) É o único motivo pelo qual realmente valeu a pena quase ter morrido.

    Na hipótese mais rasteira você poderá comprar ainda muito mais roupas de elefantinho.

    E dá pra tomar os antidepressivos quando a gestação estiver mais adiantada, se tiver necessidade --e se vc tá/é deprimida, dificilmente não estará antes e depois do parto.

    Sua vida não vai ficar pior por causa de uma criança. Pode ficar mais difícil se locomover e tomar decisões radicais, mas não sei se alguma decisão seria mais radical uhu que essa. :O)

    By Blogger Alechandra com X, at 3 de outubro de 2008 às 15:47  

  • Obrigada, Alexandra. Também foi bom ler você. Mas eu acho mesmo que se não me der logo um impulso instintivo muito poderoso - ou se o moço não me fizer um apelo muito emocionado - nada vai acontecer. Racionalmente, não consigo me convencer. Nem sei por que estou tentando.

    Aos 22 anos, eu tive um impulso desse. Foi muito doido. Depois passou.

    By Anonymous Anônimo, at 3 de outubro de 2008 às 19:37  

  • É, eu mesma só acredito no susto. Não sei se dá pra racionalmente calcular oba, vou trazer mais um pra curtir minha miséria, hehehe. Só disse que, se acontecer, pode sossegar que pior não fica. Se não acontecer, você já tem pra quem comprar roupa de elefantinho mesmo, então beleza. :O)

    By Blogger Alechandra com X, at 3 de outubro de 2008 às 21:25  

  • Tem que pensar bem mesmo, essa decisão não tem volta. Mas minha sugestão é que antes disso vocês façam pelo menos mais uma viagem dessas que você descreveu.

    E imagine a situação hipotética de passar pelas mesmas coisas, mas carregando um nenezinho ou arrastando um toddler. Quando eles ficam mais velhos você decididamente não vai passar pelas mesmas coisas porque vai precisar elaborar a programação da viagem por conta deles.

    Eu sou um pouco mais nova que você, mas os instintos ainda não estão gritando (ao contràrio dos instintos do resto da familia, que gritam comigo!)

    (por outro lado, a Catarina teria um priminho quase da mesma idade pra brincar.... hm...)

    By Anonymous Anônimo, at 4 de outubro de 2008 às 07:57  

  • Oi? Será que eu peguei um teletransporte e voltei ao século XVI? Que papo é esse de "bom e velho impulso reprodutor que compartilhamos com todos os coleguinhas da natureza" ALLLLLLOOOOOOOOU!!! E o q não compartilhamos, que é o intelecto? Ninguém nem lembra, né? Achei q esse tipo de discurso biologizante pra tentar convencer a ter filhos tivesse sido queimado junto com os soutiens e a invenção das pílula anti-concepcional. Mas, nunca subestime o reacionarismo! Ele sempre volta com força total do nada.

    Claro q ninguém vai dizer q se arrepende de ter filho. Numa sociedade machista, patriarcal, q as mulheres tem q fazer duzentas mil coisas e ainda serem lindas e vacas leiteiras reprodutoras (e não terem celulites) quem é q vai admitir? Pega os casos de crimes contra filhos nos últimos anos e veja como a sociedade civil reagiu? Porque ter filhos é "o milagre supremo e bla bla bla".

    Não tô dizendo q não seja, mesmo pq eu não tenho filhos e, é claro q sempre é a primeira coisa q o argumento contrário usa: "ah, vc não tem filho, não sabe o q é gerar uma vida...". pode ser. Posso estar errada. Eu até quero muito ter filhos (apesar de já estar indo para os 32 e ainda não ter nem a mais vaga promessa de alguém), mas não por impulsos neandertais e nada do gênero. Eu quero por razões pessoais, mas q estão longe disso.

    Eu acho q se vc tem dúvidas, não tenha. O mundo não precisa de mais crianças. No futuro, se se arrepender muito, pode adotar.

    E o q a Alexandra disse é verdade: hoje em dia há a possibilidade de tomar anti-depressivos na gestação, dependendo do estágio e avaliando o custo benefício. E, com certeza considere a possiblidade de depressão pós-parto como quase certa.

    E já q tá geral se metendo na sua vida, tb vou me meter: vc quer fazer um monte de coisas, tipo ir pra longe e viajar...aí resolve empacar em um dilema q não é seu (pelo q deu pra perceber) de verdade pra fugir do q vc realmente quer fazer, mas tem medo (o q é normal e compreensível e não tô recriminando, quem sou eu!).

    Tipo: a minha vida é muito simples. Eu às vezes fico chocada do qto a minha vida é ridiculamente simples. Eu diria até q ela é pateticamente simples.

    By Blogger Carrie, a Estranha, at 4 de outubro de 2008 às 16:45  

  • Linha, né? Viajaaaaaar... Suííííça... Voltar pra Inglateeeeerra... Escóóóócia...

    Carrie, anos atrás eu teria reagido da mesma forma que você a esse argumento, mas aprendi a não menosprezar a biologia. Nós somos animais. É claro que temos esses instintos. O simples reconhecimento disso não é reacionário nem antifeminista. Não acho que o comentário da Cláudia seguiu a linha "você nunca vai se realizar como mulher se não tiver filhos"; ela só viu, na minha indecisão, que o instinto deve estar ali latente. Não posso negar essa possibilidade. Meu instinto não está falando muito alto no momento, mas é muito porque nem dou chance. É bordoada racionalizante atrás de bordoada racionalizante.

    No mais, eu concordo com você. Não acho que preciso, não acho que tenho que, não acho que ninguém tem que. Só queria mesmo dizer que eu entendi a Cláudia. O conflito que ela apontou existe. Infelizmente, não estou nem perto de resolvê-lo.

    By Anonymous Anônimo, at 4 de outubro de 2008 às 19:25  

  • Ah, faltou dizer que o tal impulso reprodutor não é só feminino, claro. Inclusive, as razões declaradas do moço pra querer filhos são 100% biológicas: spread his seed, passar o dna adiante, cumprir sua função de macho (essa ele fala rindo), etc. Imperativo biológico é isso aí.

    By Anonymous Anônimo, at 4 de outubro de 2008 às 19:35  

  • Somos animais culturais. A cultura se estabeleceu como nossa segunda natureza. Só q a cultura é tão arraigada, tão colada a nossa pele q ela se traveste com argumentos biologizantes, muitas vezes. Daí, desnaturalizar é difícil. A gente vê como instinto o q é natural. Até o conceito de raça, q no século XIX era claramente biológico, descobriu-se ser uma invenção - ah, e certamente várias pessoas vão dizer ainda, em pleno século XX: "como? então não existe a raça negra?". Não, não existe impulso biológico pra procriação. O q existe são centenas de anos de cultura pesando sobre nossos corpos cansados. Acho esse argumento muito reacionário e tacanho. Travestido de machismo e, se vc fala "ei, vc é feminista". Não, eu não sou feminista e volto a dizer: eu quero ter filhos. Mas não pq meu corpo quer. Não pq meu instinto fala.

    Enfim, essa é a minha opinião. Mas eu sou uma historiadora, né? Eu vivo pra desnaturalizar conceitos cristalizados. Pra algum porra essa merda tem q servir - não sei se necessariamente pro bem, mas...

    Bom, mas independente disso tudo eu torço pra q vc tome a melhor decisão e seja feliz com a sua escolha.

    Um beijo

    By Blogger Carrie, a Estranha, at 5 de outubro de 2008 às 00:10  

  • Desculpa, quis dizer "a gente vè como instinto o que é cultural". Ato falho? Hahaha

    E o século q a gente tá é XXI e não XX. A pessoa é historiadora, mas não sabe nem qual o século tá...

    By Blogger Carrie, a Estranha, at 5 de outubro de 2008 às 00:15  

  • Carrie, nós somos animais antes de sermos animais culturais. O que vem primeiro é a natureza, são os instintos. Portanto, a cultura só pode se construir sobre a base biológica, e não o contrário. Pensa nos nossos antepassados distantes. A cultura é a "segunda natureza", como você mesma disse, e desenvolvida de acordo com o tipo de bicho que nós somos. E é maluquice dizer que não existe impulso biológico pra procriação. Pensa bem.

    Eu entendo o que você está falando porque também pensava nessa linha antes de ser exposta a e passar a me interessar mais por biologia e ciência. Hoje, muito sinceramente, eu vejo que eu era doida.

    Ver os primeiros momentos de vida da minha sobrinha, as primeiras interações da minha irmã com a filha, o crescimento do neném, tudo isso também tem me ensinado bastante nesse sentido.

    By Anonymous Anônimo, at 5 de outubro de 2008 às 11:20  

  • Bel,

    Em primeiro lugar vamos conceituar as coisas.

    1) Instinto é uma coisa. Claro q existe. Não sou doida a ponto de negar q ele existe. Se vc não comer, morre. Se não beber água, morre. Se não dormir depois de um tempo, morre. E nada do q a cultura faça vai mudar isso (bom, se vc conversar com Zorba ela vai dizer q não, q os iogues ficam 40 anos sem comer, sem beber água - e de fato há registros sobre isso - e sem ir ao banheiro, q existe um movimento mundial de pessoas q não comem, mas...bom, vamos deixar os iogues de fora). O q eu to dizendo é:

    2) A cultura é mais forte no atual estágio de "desenvolvimento" da humanidade na maioria dos casos. Se não fosse assim, a gente sairia trepando no meio da rua com o primeiro q passasse toda vez q ovulássemos, concorda? Feito cães. Porque os cães - ou melhor, as cadelas - ainda q selecionem o melhor macho e tal, não terão problemas pensando nas consequências dos seus atos e bla bla bla. E não é o q acontece. Ao contrário, o q faz pessoas negarem seus desejos sexuais (só pra ficar na linha "reprodução") em nome de religião, pudores ou o q mais for se não a cultura? Pergunta pra esse tipo de gente - e eu conheço váááárias pessoas assim - o q é mais forte: o impulso procriador ou a cultura? O q faz as pessoas literalmente pararem de comer e desenvolverem doenças como a anorexia se não a cultura? O desejo de atender a um padrão estético imposto? E as pessoas morrem disso. Há quem diga q há componentes genéticos na anorexia, mas todo médico vai apontar a nefasta influência da cultura como fator determinante.

    "Ah, mas eles estão negando sua natureza e vão sofrer as consequencias alhgum dia, em forma de doença ou neurose" vc pode me dizer. (vc sabia q mulheres q não tém filhos tem mais chance de ter câncer?! Olha um argumento aí pra quem acha q procriar é um instinto natural. A natureza pune quem não procria!).Pode ser. Só q, para esse tipo de gente, se forçar a fazer uma coisa q é contra a cultura deles pode ser mais violento do q fazer algo contra a natureza. E pode desencadear outro tipo de doença ou "morte".

    Realmente não é algo q se possa convencer ou não, pois pelo visto, se trata de um "saber" que ambas cultivamos durante anos. Eu tb entendo o que você está falando porque também pensava nessa linha antes de ser exposta a e passar a me interessar mais por história e ciências humanas. Hoje, muito sinceramente, eu tb vejo que eu era doida. Rsrsrsrs...

    Sim, ver o crescimento da minha sobrinha tb me ajudou a pensar dessa forma. Aliás, ver o nascimento dela - uma cesariana, com médicos conversando e retalhando a minha cunhada como um pedaço de filé mignon - me fez pensar dessa forma.

    Eu tb concordo q procriar seja um instinto - acho q não me fiz muito clara nos argumentos anteriores. Só não dou esse peso todo q vc dá. Não sei se vejo o "natural" como vc vê. Acho q ambas concordamos que existam instintos, só q eu acredito que a cultura se sobreponha a eles na marioia dos casos, enquanto vc acha que não. Não acho q o instinto seja mais forte do q a cultura. Meu instinto me faz querer agarrar o bonitão q tá aqui ao meu lado na biblioteca e transar com ele no chão de carpete. Mas a cultura não me deixa sequer dar bom dia a ele.


    Bom, acho q é isso.

    By Blogger Carrie, a Estranha, at 5 de outubro de 2008 às 19:04  

  • Só pra esclarecer também: eu não dou nem mais peso aos instintos nem acho que eles se sobreponham à cultura. Só estava reconhecendo que eles estão aí e que não é problema apontar que eles estão aí. Antes, isso me ofendia. Hoje, é só um dado a mais. Ênfase no a mais.

    By Anonymous Anônimo, at 5 de outubro de 2008 às 20:15  

  • Ok. ok. Então falamos a mesma língua afinal. Ou quase. Pq a mim às vezes ainda ofende.

    By Blogger Carrie, a Estranha, at 6 de outubro de 2008 às 11:21  

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