pequenas lições gratuitas
ou vamos matar o traduzês
Um brasileiro falaria "como era verde meu vale" e NUNCA "o quão verde era meu vale". Sacou? Na dúvida, puxe o verbo pra frente do adjetivo.
Ou melhor ainda, faça uma paráfrase. Tente imaginar como você ou qualquer outro brasileiro diria tal coisa em tal contexto. Um motorista NUNCA diria a um caronista "isso é o mais longe que posso levá-lo". Ele diria "só posso te trazer até aqui". Confessa: deu um alívio refrescante a segunda frase, não? Uma pessoa enojada NUNCA diria "o quão baixo eles podem descer?". Ela diria "até onde vai a baixaria?", e outras possibilidades que soem igualmente naturais e espontâneas.
Tradutor que não faz paráfrase, bom não tradutor não é.
ou vamos matar o traduzês
Um brasileiro falaria "como era verde meu vale" e NUNCA "o quão verde era meu vale". Sacou? Na dúvida, puxe o verbo pra frente do adjetivo.
Ou melhor ainda, faça uma paráfrase. Tente imaginar como você ou qualquer outro brasileiro diria tal coisa em tal contexto. Um motorista NUNCA diria a um caronista "isso é o mais longe que posso levá-lo". Ele diria "só posso te trazer até aqui". Confessa: deu um alívio refrescante a segunda frase, não? Uma pessoa enojada NUNCA diria "o quão baixo eles podem descer?". Ela diria "até onde vai a baixaria?", e outras possibilidades que soem igualmente naturais e espontâneas.
Tradutor que não faz paráfrase, bom não tradutor não é.
28 Comments:
Disse tudo. Sinta-se aplaudida de pé, por vários minutos, com pelo menos duas curtain calls.
:o)
By Ms. T. Rios, at 17 de maio de 2008 às 13:29
Uma dúvida minha: toda tradução tem de ter esse jeitinho "conversado" de brasileiro vira-lata?
By Anônimo, at 17 de maio de 2008 às 17:13
Entre os dois: depende do registo de linguagem, do fim a que o texto se destina. Também detesto ler um texto e ver a sintaxe do original à transparência. Como para tudo na vida, bom-senso é uma boa bússola!
Gosto muito de vir aqui.
Beijo
By malizima, at 17 de maio de 2008 às 17:21
Cynthia, assim eu coro. :)
Antônimo, não se for um diálogo entre pessoas com complexo de aristocracia.
Malizima, claro, depende do registro. Estou aqui falando como tradutora de diálogos que eu sou. Mas traduzês é traduzês em qualquer tipo de tradução, e traduzês = tradução ruim. Obrigada. :)
By Anônimo, at 17 de maio de 2008 às 17:28
O que você tá dizendo é que a aristocracia é sempre um complexo de aristocracia, é sempre algo falso, e a vira-latice sempre algo verdadeiro. E que é preciso que a tradução enfie realidade nas frases. E que o jeito que o brasileiro fala é algo de desejável, de querido, e que devemos tornar o diálogo o mais remelento possível. É um pouco isso?
By Anônimo, at 17 de maio de 2008 às 18:00
Antônimo,
Acho q vc não notou algumas palavras aí no texto. São elas:
falaria
contexto
motorista
caronista
enojada
naturais
espontâneas
O tradutor tem q ser acima de tudo uma pessoa com respeito igual por todos. E há vira-latas em todo lugar. Ser inglesante nativo não é passaporte pro paraíso canino.
By Anônimo, at 17 de maio de 2008 às 18:12
A: "Oh, quão vulgar é vosso falar!"
B: "Se manca, Tonho."
A: "Oh, quão sofrível...! Temo que ausentar-me-ia se tão hipnótico não fosse."
By Anônimo, at 17 de maio de 2008 às 18:19
Antônimo, não, eu não falei nada disso. Política, não trabalhamos. Eu traduzo diálogos contemporâneos. Pego o que um americano comum fala informalmente e traduzo pro que um brasileiro comum falaria informalmente naquele mesmo contexto. Nada mais que isso. Não cabe a mim julgar se nosso jeito de falar é desejável ou não; ele é o que é, e é assim que eu o registro. Meu único objetivo é produzir um texto natural e fluente.
By Anônimo, at 17 de maio de 2008 às 18:37
Permafrost, eu não deixei de notar nenhuma das palavras que você listou, mas ainda assim obrigado. É que não se trata bem de cegueira, mas de uma maneira peculiar de ver.
Bel, eu só não sei até que ponto é lícito. Só isso mesmo. O Houaiss tentou aproximar o Bloom a um quase malandro carioca dos anos 30. Não sei se funciona. Talvez funcione mesmo. Não sei.
By Anônimo, at 17 de maio de 2008 às 18:44
Bel, li teu comentário ali de cima só depois de ter postado o meu (também aí de cima). Entendi agora do que se trata. Concordo com você.
By Anônimo, at 17 de maio de 2008 às 18:47
Acho que estamos falando de duas coisas em uma.
A primeira é diálogo. Pra mim, sim, diálogos informais têm que ser traduzidos com igual informalidade, por mais vira-lata ou remelento que você ache que isso seja. Talvez, nesse ponto, nós dois sejamos de linhas opostas e pronto.
A segunda é o traduzês em geral e a incapacidade (ou preguiça) que muitos tradutores têm de se libertar da estrutura da frase original e pensar num jeito mais natural e desembaraçado de falar a mesma coisa. Nesse ponto, eu não sei como alguém poderia discordar, sinceramente. Eu não sei como alguém pode achar uma tradução como "isso é o mais longe que posso levá-lo" normal ou aceitável, seja qual for o tipo e a idade do texto.
By Anônimo, at 17 de maio de 2008 às 18:56
Idem, antônimo. Também postei meu comentariozão antes de ler o seu logo acima.
By Anônimo, at 17 de maio de 2008 às 18:57
o que faz uma criatura classificar coloquial como vira lata?
By leila, at 17 de maio de 2008 às 20:37
Acho que o mesmo que faz uma criatura (não esta, outra, ou várias outras, ou todas menos esta) te ignorar, Leila.
By Anônimo, at 17 de maio de 2008 às 21:21
Leila, acho que isso é mais comum do que a gente imagina. Já trabalhei pruma firma de legenda que proibia coloquialismo. Todo mundo tinha que falar como lorde inglês (sim, inglês, porque a gente tinha que encaixar as palavras do português na estrutura do inglês), fosse num filme sobre lordes ingleses ou bandidos barra-pesada ou jovenzinhos surfistas ou crianças levadas. Eu sempre achei que esse povo não devia trabalhar com linguagem; devia abrir um cartório, uma pastelaria ou uma escola de etiqueta. A sensibilidade lingüística dos caras era zero.
By Anônimo, at 18 de maio de 2008 às 13:40
Concordo 100%. Aliás, para mim isso nem é paráfrase - tradução é isso e pronto. Ouvido, discernimento, atenção.
(Cheguei aqui pelo blog da aleCHandra ^^)
By Anônimo, at 18 de maio de 2008 às 15:15
Nossa, que discussão.
Eu só ia acrescentar mais um exemplo. Que é:
Um brasileiro na boca de um poço nunca diria a outro, lá embaixo:
"Você pode me ouvir?!"
e sim
"Está me ouvindo?!"
É outro caso clássico.
Enfim, outro entusiasmo compartilhado.
;-)
By Anônimo, at 18 de maio de 2008 às 18:16
Jules - "para mim isso nem é paráfrase - tradução é isso e pronto". Ufa, pra mim também. Mas tem tanta gente que acha traduzês perfeitamente normal, que às vezes acho que sou a única louca.
Anna, clássica, clássica. Mas, sabe?, pelo menos em legenda de televisão, acho que tem cada vez menos gente fazendo isso.
By Anônimo, at 19 de maio de 2008 às 10:24
Muito bacana esse post.
Tem coisas que devem ser adaptadas mesmo, porque no mundo várias sãoa s formas como as pessoas dizem uma mesma frase.
Se eu entendi errado me desculpe, mas foi isso que eu entendi.
Beijos
Alê
By Anônimo, at 19 de maio de 2008 às 11:41
Bel,
Eu acho que você está rigorosamente certa. Concordo mesmo com TUDO que você acabou de dizer (e-mail). E sim, eu misturei (na verdade desde o início) bastante as coisas. Perdi o foco (se é que alguma vez estive com ele). Tava pensando em outras coisas. Por exemplo, nessa "coisa" já bem antiga de trazer pra dentro da palavra escrita a palavra falada, Barbusse mesmo, Céline mesmo. Acho que isso dá um trabalho danado. E as pessoas (não você, pensando em alguns conhecidos meus, não você), querem parecer bem soltinhas, bem à frente das outras escrevendo assim, como se isso fosse alguma novidade. E as pessoas não trabalham, se esquecem disso, do trabalho. Tava pensando também noutra coisa, nessa outra coisa que é, no final das contas, a busca pela verossimilhança (na literatura). As pessoas se esquecem (mais uma vez, não você) que o improvável é tão possível quanto o resto. Que a realidade suporta bem até o inverossímil. E depois, pra ser bem honesto, eu nem sei apontar onde tá a fronteira entre essas coisas, realidade (num sentido forte), não-realidade. Acho que essas coisas estão um pouco uma dentro da outra. Algumas pessoas dizem que a realidade não existe (no sentido de que não tá ao nosso alcance), que tudo que existe (pra nós) é a percepção da realidade. Não sei. Não afirmo quase coisa nenhuma. Falando essas coisas só pra você ver o grau de confusão que cheguei a partir do teu post.
Abraço.
By Anônimo, at 19 de maio de 2008 às 16:25
(tucanaram a tradução)
By isabel alix, at 19 de maio de 2008 às 17:50
Alessandra, adaptação já é nível mais avançado. Só estou falando mesmo de escrever com naturalidade.
Antônimo, não sei, você realmente foi muito mais longe do que o meu post ia. Mas, de fato, eu sou bem entusiasta do estilo que você chamou de vira-lata (se bem entendi). Pra mim, ele tem muito mais potencial de comédia, e eu tenho um fraco por comédia. Remelento é uma palavra muito cômica, aliás. Um dia eu usei xexelento numa tradução e fui dormir tão feliz que nem te conto.
Belly, :). Essa foi boa.
By Anônimo, at 19 de maio de 2008 às 19:24
Ai, adorei o post e os comentários! Queria entrar na briga (rsrsrs), mas não entendo picas de tradução, então vou calar minha boquinha.
Bjs
By Carrie, a Estranha, at 19 de maio de 2008 às 21:16
Eu não entendo nadicas de tradução e falei de adaptação porque pensei em transformação, mudança, tipo "fulano fala assim na China" e ciclano assim lá na Terra do Nunca.
Obrigada por me esclarecer sobre a diferença de adaptação e escrever com naturalidade.
Nhé pra mim!!!!
Beijos
Alê
By Anônimo, at 19 de maio de 2008 às 22:07
como o meu vale era verde... :P
By Guilherme, at 20 de maio de 2008 às 03:49
Só o que faltava, uma ovelinha saudosa balindo nessa caixa de comentários.
By Anônimo, at 20 de maio de 2008 às 04:38
Carrie, :)
Alê, esclarecer eu não esclareci, né? Um dia eu faço uma lição 2 sobre adaptação, quem sabe. :)
Guilherme, olha que eu prefiro o "era verde", hein? O ritmo flui melhor e ele tem um fundinho cômico também. Me lembra, sei lá, um velho no topo de um morro, olhando a paisagem enquanto acaricia a pança e enchendo a boca pra dizer "como era grande! como era enorme!".
Mas aqui já estou viajando, hein? Eu traduzo comédia, hein? Não pensem que saio por aí transformando dramalhões em palhaçada.
Criatura, ?.
By Anônimo, at 20 de maio de 2008 às 10:38
nossa, só hoje voltei aqui, ó criatura ignorante, quem ignora não late!
By leila, at 21 de maio de 2008 às 19:00
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